quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Demoraram 5 anos pra eu conseguir escrever esse post

    Bom, após 5 anos sem atualização finalmente eu sinto que consigo retornar e falar um pouco do que aconteceu nesse tempo todo. No dia 10 de janeiro de 2015 meu pai partiu para o céu. Foi um período muito doloroso e de muitas incertezas. Foi uma ruptura de tudo. Meu pai estava bem e de repente passou muito mal, levamos ele para o hospital e em 3 dias ele foi embora. Não houve um adeus. A última vez que o vi aqui foi a preparação dele indo para o hospital, ele ainda deitado na cama e eu tinha, ou achava que tinha que ir trabalhar e só disse até logo, a gente se ver logo. Mas não foi assim. E o trabalho nem precisava tanto de mim naquele dia. Eu deveria ter ficado, eu deveria ter ido junto pro hospital. Mas a noite anterior tinha sido tão assustadora que eu precisava fugir, mas eu não esperava que aquela seria a última vez. Perder meu pai foi a maior dor que eu já senti até então. E é estranho pois não éramos tão próximos assim, apesar de morar na mesma casa. Conversávamos pouco, claro que tínhamos ideias contrárias. Eu sempre senti falta de uma proximidade, mas ele era meu pai e sei o quanto me amava e eu também o amava. Eu fiquei sem chão, sem base, fiquei sem saber o que aconteceria dali pra frente. E agora? Eu estava planejando juntar dinheiro, pensando em de repente conseguir morar sozinho e dai não era mais assim. Eu não sabia o que iria acontecer dali em diante.

    
    Minha mãe foi muito forte. Uma força que não sei se teria. Ela, mesmo devastada, conseguiu segurar as rédeas e liderar a cavalaria. Eu só segui, acolhi, tentei está perto o máximo possível. Sonhei muito nos dias seguintes, tive pesadelos, acordava gritando. Mas em um sonho eu vi meu pai. Estávamos no portão de casa e havia um pôr do sol atrás dele e ele dizia que confiava na gente, que ele tinha certeza que havia feito o melhor como pai e que nós saberíamos seguir em frente. Então, ele ia embora em direção ao pôr do sol. Esse sonho me acalmou. Foi como se ele me dissesse que ficaria tudo bem. Que podíamos seguir em frente. E assim, as coisas foram se estabelecendo e eu mergulhei no trabalho com o objetivo de conseguir ter uma reserva de emergência, mas também ter um suporte se caso qualquer coisa pudesse acontecer.

    
    Passei a trabalhar no escritório da UR Filmes editando casamentos, vídeos, clipes. Também trabalhava nas apresentações de teatro da RC Produções do Marcus Cruz. E ainda estava dando aulas de cinema/ audiovisual na Escola de Atores de Santos. Assistindo workshops sobre produção audiovisual e participando de mostras como o Mapa Cultural Paulista com o curta-metragem Desligado. Nesse período, o Lucas Romor, CEO da UR Filmes, se associa com o Bruno Alves e sou convidado a trabalhar na Rino Criativo, uma startup de publicidade.

    
    Já no final do ano, após as apresentações finais da Escola de Atores de Santos, eu decido que é melhor deixar de dar aulas. A experiência foi fantástica. O convite da Virginia Nascimento veio num momento que estava muito isolado e desacreditado, mas eu aceitei, fui, mesmo com medo (como minha prima Alessandra diz) e eu só aprendi, muito! Eu só tenho a agradecer pela oportunidade. Mas eu não me sentia mais bem fazendo aquilo. Tinha se tornado uma obrigação, não tinha mais prazer. Havia chegado a hora de sair e assim aconteceu. E nesse mesmo dia o Luis Fabiano chegou de viagem e foi me visitar.

    
    Rever o Luis após 4 anos era muito estranho. Eu passei esse tempo todo sentindo muitas saudades, mas comecei a sentir que deveria me afastar para me preservar. E quando ele chegou eu não conseguia abraçar ele. Eu me afastei, mesmo estando muito feliz dele está ali, dele ter vindo me ver. Foi estranho. Mas logo os dias passaram e a proximidade voltou e eu me senti bem novamente ao lado dele.

   
    Nesse ano também conheci pessoalmente uma pessoa que considero bastante pois sempre admirei, desde a época do Videolog e mais ainda por ter me ensinado como mexer no Sony Vegas e ser alguém muito acessível e atencioso. Eu fui ao YouTube Space conhecer o sr Maurício Chahad e foi muito legal vê-lo pessoalmente. E ainda gravamos vídeo com minha sobrinha Sabrina, que naquela época se aventurava num canal do YouTube.

    
    E o que agitou o fim do ano e de certa forma me ajudou bastante foi a correria para gravar 3 curta-metragens que o Luis Fabiano fez questão de produzir. E ainda fizemos vídeo depoimento para o casamento do primo dele e filmamos o casamento. Foi uma loucura esse dezembro. Mas foi bom, me ajudou a passar pela dor do inicio do ano e acreditar que haviam muitas possibilidades pela frente. 2015 foi um ano cheio de muita emoção, muitas lágrimas, muitas alegrias também, muito trabalho, decisões e realizações. E eu entre felicidade e angustia, como sempre. Mas acreditando no melhor.

    
    2016 inicia com o Luis Fabiano voltando pra Holanda. Chorei bastante. Queria ter um amigo como ele perto, mas ele precisava voltar, precisava fazer as coisas dele. E eu ainda estava muito sensível. Foi doloroso ver ele ir embora. E assim mergulhei novamente no trabalho, nas edições, nas ideias novas, mas em alguns momentos em tristeza, em solidão.

    
    Inventei que queria ter a experiência de produzir um show no teatro. A oportunidade surgiu com a abertura do edital e então fui me aventurar e no final acabei produzindo 4 shows. Lanna, Maurício, Anderson e Keity. Deu bastante trabalho, estresse, mas foi muito bom produzir, foi gratificante. Não rendeu dinheiro. Pelo contrário, acabei gastando. Mas eu queria viver isso e não me arrependo.

    
    No meio de muito trabalho, noites em claro e estresse ainda consegui lançar o curta-documentário do Luis Fabiano - "Pieces". O ano se resumiu em trabalhar muito e se dividir entre trabalhar para as pessoas, realização pessoal e contribuição com o Luis.

   
    Em 2017 ainda trabalho com teatro com o Marcus em algumas apresentações e ajudo o Lucas na produção de um show pela produtora Be Rap. O trabalho com edição continua e o estresse também. E entre isso o Luis surge com a ideia da websérie +Próximos. 

    
    No final de julho iniciamos a produção aos finais de semana. Foi maravilhoso, super gratificante, mas muito estressante também. O Luis ajudou como pode, mas online. Enviou recursos, mas estava preso na barreira virtual. A Juh Ferraz, ajudou muito também na produção, pessoalmente e dando todo apoio. Mas a maior parte da produção ficou comigo e mesmo a energia de fazer a máquina rodar estava comigo. Foi extremamente desafiador e no final eu estava esgotado. 

    
    Em 1 de dezembro lançamos a websérie. Hoje acredito que errei a estratégia de lançar todos os episódios juntos. Mas era algo que eu via funcionar nas séries da Netflix e imaginei que o público estava interessado dessa forma. Porém o público do YouTube é diferente e o nosso público em si que estava se formando naquele momento. O certo devia ser lançar um episódio por semana. Mas eu não conseguiria, seria mais trabalho e eu não aguentava mais naquele momento. Então, foi errado e causou talvez menos visualizações, mas me preservou um pouco. Foi melhor assim no fim das contas.

    
    2018 vem cheio de esperanças e oportunidades. É o ano que revejo meu amigo Andrio em São Paulo no espetáculo da Turma da Mônica. Viajo para o Rio de Janeiro pra ajudar minha prima Alessandra no projeto dela. Trabalho muito, me estresso bastante também. Mas lanço junto com o Luis Fabiano mais um curta que gravamos em 2015, "Sábado de Carnaval". E os workshops de gestão de projetos culturais e produção executiva me abrem um leque de possibilidades que eu penso: não vai ser fácil, mas temos chances.


    Então vem as eleições presidenciais e fazem tudo ir por água a baixo. O presidente eleito é contra a cultura, contra o fomento cultural e lança uma nuvem negra sobre todos nossos sonhos. Em meio essa tristeza o Luis decide lançar o curta "A Prateleira", como uma forma de protesto contra o que estava por vir.

    
    No final do ano fiz uma escolha. Meu computador, minha ferramenta de trabalho começa a dar problemas. Ele já tinha seus quase 10 anos e tava cansado. Me vi obrigado a investir num computador melhor e caro. Mesmo dividindo o pagamento em 12 vezes, ainda assim ficaria pesado. A Maria me faz uma proposta com o dobro do que eu ganhava na startup e mesmo eu sabendo que seria um trabalho exigente eu precisa do dinheiro e pela primeira vez eu me vi obrigado a seguir o capitalismo em vez do meu coração que sempre preferiu a realização do que a remuneração. Eu precisava do dinheiro. Então, eu fui. E com essa sensação de seguir um caminho que eu não queria mas que era preciso e a nuvem escura que o novo governo trazia, entramos em 2019.


    Comecei o ano desistindo de alisar o cabelo. O tratamento já me incomodava muito na realização, sentia dor nas costas, dor na cabeça e em dois dias o cabelo já parecia não está do jeito que esperava. Decidi parar e iniciar uma transição capilar para o cabelo natural, cacheado/ crespo.


    Como eu já previa o ano foi dificil. Muito trabalho, quase nenhuma realização pessoal. Estresse. Desentendimentos profissionais. Falta de crença no trabalho. E a questão de assistir o desmonte da cultura, do fomento ao cinema. As oportunidade se fechando e tornando-se mais difíceis ou impossíveis pra mim. No meio dessa realidade surge a ideia de um canal no YouTube com a Maria sobre alimentação saudável. Tentamos vários formatos, maneiras de fazer. Descobrimos as lives, tentamos em live. Mas de certa forma nossas ideias eram contraditórias. Eu imaginava algo atual, despojado, próximo ao que eu consumia no YouTube no momento, mas a Maria via algo maior, mais produzido e roteirizado.

    
    Tentamos nos conciliar, encontrar uma forma que fizesse sentindo tanto pra um quanto pra outro. Assistimos palestras de vendas na internet. Formulas e sistemas que dão muito certo, mas que exigem que você esteja totalmente conectado com seu produto e respire ele. Mais ferramentas que ajudam, mas que também exigem uma dedicação que precisa que você esteja amando aquilo que você está fazendo. E não era essa a minha situação. Algum tipo de negação e ansiedade começava a iniciar dentro de mim.


    Dentro disso tudo eu abro meu canal na Twitch. Descobri a plataforma de streaming assistindo lives de jogos com a Samira Close, Rebeca Trans e seus amigos e cheguei a Twitch. Assisti muita coisa, me divertia, me distraia e me ajudava a passar os momentos de estresse que eu estava me obrigando a passar para poder ganhar dinheiro. Então, tentei experimentar as lives. Mas como nunca fui um jogador, comecei streamando o editor de vídeo, depois tentei comentar meus curtas, fazer um programa de clipes, fazer critica de filmes. Cheguei a tentar conversar com amigos. Mas ainda não sentia que era meu lugar. Porém aquilo parecia muito interessante e uma certa saída pra minha angustia.

    
    2019 terminou triste pra mim. Mas também esperando um novo ano onde as coisas poderiam mudar. Lembro que a partir de outubro comecei a controlar minha alimentação, comer menos carboidratos e beber bastante água. Estava dando certo. 2020 me esperava.

    Demorei 5 anos pra só agora relembrar os highlights e registrar esses momentos. É claro que mais aconteceu, que detalhes eu acabei deixando passar, mas que sim foram muito importantes. Por exemplo minhas conversas com meu amigo Fernando. Mas eu levei todo esse tempo por que eu não queria e não conseguia falar sobre a perda do meu pai sem cair em lágrimas. Só agora, nesse momento, nesse 30 de dezembro de 2020 a força pra isso chegou. Foram 5 anos de aprendizado, de restruturação, de reencontro. E ainda não acabou. No próximo post falo do ano de 2020 onde acho que os 5 anos pesaram e eu realmente não aguentei. Mas que, em spoiler, parece que as coisas começam a ficar melhor.

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